O Brasil atravessa um momento histórico em sua relação comercial com a China, que se tornou o principal destino das exportações brasileiras. O país asiático absorve cerca de um terço de tudo o que o Brasil vende para o exterior, principalmente produtos primários como soja, minérios e petróleo. Esse aumento significativo nas transações comerciais trouxe benefícios econômicos imediatos, mas também levanta preocupações sobre os impactos de longo prazo na indústria nacional, que enfrenta desafios para se manter competitiva e diversificada.
Nos últimos anos, a pauta exportadora brasileira permaneceu concentrada em produtos de baixo valor agregado, enquanto a China avançou como centro manufatureiro e tecnológico global. A exportação de commodities em estado bruto cresceu, mas a capacidade do Brasil de agregar valor aos produtos antes de enviá-los ao exterior se manteve limitada. Especialistas alertam que essa dinâmica, se não revertida, pode enfraquecer setores industriais estratégicos e reduzir oportunidades de desenvolvimento tecnológico e inovação no país.
A soja e os minérios são exemplos claros desse cenário. Enquanto o Brasil é um dos maiores produtores mundiais, o processamento dessas matérias-primas tem se expandido em ritmo mais lento do que a produção, permitindo que a China agregue valor nos seus próprios portos antes de comercializá-los globalmente. Essa prática aumenta a competitividade chinesa e limita a capacidade brasileira de explorar o potencial econômico total de suas commodities, impactando diretamente a indústria de transformação.
Ao mesmo tempo, políticas internas, como a Lei Kandir, favoreceram a exportação de produtos em estado bruto, isentando-os de impostos. Essa medida contribuiu para a competitividade externa, mas também desencorajou investimentos em industrialização local. A ausência de incentivos para o desenvolvimento de capacidade de processamento interno fez com que a indústria brasileira perdesse espaço em setores estratégicos, mantendo o país dependente da exportação de produtos pouco elaborados.
No entanto, a relação com a China também abre oportunidades para modernização e investimentos conjuntos. Nos últimos anos, empresas chinesas instalaram fábricas no Brasil, incluindo montadoras de veículos elétricos, criando oportunidades de transferência de tecnologia e parcerias em pesquisa e desenvolvimento. Aproveitar essas iniciativas pode impulsionar setores industriais estratégicos, como energia renovável e química, contribuindo para uma maior diversificação econômica e redução da vulnerabilidade a flutuações externas.
Especialistas destacam que a dependência de um único parceiro comercial representa riscos econômicos consideráveis. Concentração de exportações em um país torna o Brasil suscetível a mudanças de políticas externas, crises financeiras, alterações nos preços internacionais e estratégias de autossuficiência da China. Equilibrar a relação comercial com múltiplos parceiros é fundamental para mitigar riscos e garantir sustentabilidade econômica a longo prazo, sem comprometer a estabilidade do setor produtivo nacional.
O governo brasileiro, ciente desses desafios, vem promovendo programas de incentivo à industrialização, como o plano Nova Indústria Brasil, destinado a fortalecer a capacidade de transformação interna e investimentos em inovação tecnológica. Paralelamente, políticas voltadas à educação, infraestrutura e saúde podem apoiar o desenvolvimento de um ambiente industrial mais competitivo e resiliente, capaz de agregar valor às exportações e reduzir a dependência de commodities brutas.
Em síntese, a relação crescente entre Brasil e China oferece vantagens econômicas imediatas, mas também impõe desafios estratégicos à indústria nacional. Equilibrar exportações, investir em tecnologia, agregar valor aos produtos e diversificar mercados são medidas essenciais para transformar a parceria em uma oportunidade de crescimento sustentável. O futuro do Brasil depende da capacidade de aproveitar os benefícios comerciais sem comprometer o desenvolvimento industrial e a autonomia econômica do país.
Autor: Daker Wyjor


